Já faz alguns meses que o meu filho começou a tentar se comunicar através da fala (atentem que não escrevi falar e sim, tentar se comunicar através da fala). Está sendo um processo incrível. No começo 99,9% da humanidade, incluindo eu, achavam bonitinho ouvir os sons guturais emitidos por ele mas não tinham a menor idéia do que ele queria dizer. Logicamente, havia 0,01% do universo, popularmente conhecido como “mãe”, que não apenas conversava com ele neste idioma próprio como oferecia os seus serviços de tradutora e intérprete juramentada para os mortais.
Aos poucos, os sons começam a fazer sentido e você reconhece algumas palavras complexas sendo pronunciadas pelo seu filho. Logicamente “mamãe”está entre elas. Até aí você aceita….carregou 9 meses, acordou mais vezes, deu mais de mamar. É justo. Você então inicia um processo de condicionamento do seu filho, para que ele fale “papai”,senão com a mesma frequência, mas em um padrão aceitável, para que você não fique socialmente exposto e passível de ser julgado como pai ausente pelo tribunal de mães amigas de sua esposa.
Algo parece dar errado, porque quanto mais você o estimula, melhor ele pronuncia o nome da babá, especialmente quando ela está de folga ou viajou de férias para a Bahia. Se antes você acreditava que dividiria uma medalha de ouro com a mãe, observa que querer a medalha de prata já é algo quase impossível. Comemore caso o seu nome seja pronunciado entre os top ten. Você nem imagina mas está competindo com o guardinha da escola, o porteiro do prédio, a balconista da padaria e até com a Dolores, que você mais tarde descobre que é a tia da referida babá. Se prepare psicologicamente para esta derrota, querer que seu filho pronuncie “papai”com a mesma frequência que ele faz “mamãe” é algo como enfrentar o Barcelona no Camp Nou. Se contente em perder de pouco…Pronunciar “mamãe” tem poderes maiores que qualquer senha biométrica de banco…seu filho perceberá isto bem cedo.