Ao longo de toda a gravidez, o papel do pai pode ser definido como o de um ator coadjuvante, contracenando e fazendo figuração para que a atriz principal, no caso a mãe, reforçada pelo seu figurino de barrigão e seus efeitos especiais de fome incessante e sono perpétuo, possa brilhar.
Pobres papais acreditam que esta situação se reverterá com o nascimento do filho…Criam a fantasia que o jogo se reequilibrará e que dali para frente tanto o pai como a mãe atuarão em jogral, com o mesmo nível de protagonismo. Esta ilusão termina com as primeiras mamadas e a transformação da mamãe em uma divindade produtora do néctar sagrado, o leite…E o papai ? Aquele que resmungava por ser coadjuvante na gravidez, agora ainda mais resignado, tem que lidar com a sua nova função: o nobre cargo de arrotador oficial. Papai agora entra em campo com o intuito de ajudar o seu rebento a produzir burps…Nada além disto…Ao longo dos primeiros dias esta tarefa é realizada com orgulho, a satisfação de ouvir um pequeno trovão surgindo de dentro de seu próprio filho o faz se sentir um pai participativo, digno de propaganda de Gelol. Depois de algumas semanas e uma série de fracassos, o pai passa a perceber que esta não é exatamente a sua maior virtude e os minutos até que seu filho arrote e portanto o arrotador seja liberado para dormir, passam a se prolongar…Tapinhas nas costas,sacolejos, dança da chuva e nada da pequena criatura liberar os seus gases. A paciência do pai na função diminui, ele passa a questionar o seu papel na sociedade, pensa em colocar isto na pauta dos Black Blocks e cogita até misturar Coca Cola quente no leite do filhote para agilizar as coisas. O pior vem quando o pai tenta passar a perna na mãe natureza e colocar o seu filho para deitar sem arrotar. Canastrão, o pai volta para a cama e afirma para a esposa que fez tudo certo e que o bebê dormirá como um anjo…A trapaça não passa pelo detector de mentiras chamado de babá eletrônica, que impiedosa amplifica ainda mais o choro do seu filho. Agora não apenas ele chora, como precisa ser trocado pois regorgitou todo o leite. Inclemente a mãe decreta a condenação do pai – volte ao início: troca de roupa, com um “aproveite e troque a fralda” e o coloque para arrotar (direito!). É dura a vida de arrotador oficial…